O que são PEPS e UEPS? Entenda os métodos de avaliação de estoques

Controlar estoques é uma das tarefas mais importantes dentro da administração financeira e logística de uma empresa. A forma como a empresa registra a entrada e saída de mercadorias impacta diretamente no custo das vendas, na precificação, na margem de lucro e até na apuração de impostos.

Foi no início do século XX que os métodos de avaliação de estoque passaram a ser sistematizados, com destaque para os estudos de Karl Pearson e outros contadores da era industrial, que introduziram os primeiros fundamentos dos modelos FIFO (PEPS) e LIFO (UEPS) dentro da contabilidade gerencial. Esses métodos se tornaram a base para definir como contabilizar o custo das mercadorias vendidas (CMV) e o valor dos estoques remanescentes, e seguem influenciando a contabilidade até hoje.

Esses modelos não definem como os produtos fisicamente saem do estoque, mas como são contabilizados financeiramente. Entender a lógica por trás de cada um é essencial para escolher a melhor estratégia fiscal, financeira e operacional para a sua empresa.

Origem dos métodos PEPS e UEPS

Os métodos PEPS (FIFO – First In, First Out) e UEPS (LIFO – Last In, First Out) surgiram no contexto da contabilidade gerencial e do controle de estoques, especialmente a partir do desenvolvimento das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS).

Esses modelos foram introduzidos como formas de mensurar o custo das mercadorias vendidas (CMV) e o valor do estoque final, com base na ordem das entradas.

O PEPS segue uma lógica mais linear e é amplamente aceito por normas contábeis modernas. Já o UEPS, embora ainda usado em alguns países, como os EUA, não é aceito pelo IFRS — o que afeta diretamente empresas que operam em mercados internacionais.

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O que é o método PEPS?

PEPS significa Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair. Ou seja, os produtos mais antigos no estoque são os primeiros a serem contabilizados como vendidos.

Isso faz com que os itens mais antigos sejam reconhecidos no custo das mercadorias vendidas, e os mais recentes permaneçam no estoque final.

Vantagens do PEPS:

  • Reflete melhor o valor de mercado no estoque (itens mais recentes ficam registrados)
  • Reduz o risco de obsolescência de produtos
  • Alinha-se ao princípio contábil de prudência
  • Aumenta o lucro contábil em cenários de inflação

Desvantagens:

  • Pode aumentar a carga tributária em ambientes inflacionários
  • Lucro contábil maior pode não representar maior geração de caixa

Exemplo:

Data de compraQtdeCusto unitário
01/05100R$ 10
10/05100R$ 12

Se a empresa vender 100 unidades, pelo PEPS, considera que vendeu as primeiras, de R$ 10.
CMV = 100 × R$ 10 = R$ 1.000

O que é o método UEPS?

UEPS significa Último a Entrar, Primeiro a Sair. Ou seja, os produtos mais recentes no estoque são os primeiros a serem contabilizados como vendidos.

Nesse caso, os itens mais novos entram no CMV e os mais antigos permanecem no estoque final.

Vantagens do UEPS:

  • Reduz o lucro contábil em ambientes de inflação (boa para pagar menos impostos)
  • Pode ser mais realista em mercados de alta rotatividade

Desvantagens:

  • Não aceito pelo IFRS
  • Pode distorcer o valor do estoque final (fica desatualizado)
  • Não indicado para produtos perecíveis ou com validade

Exemplo com os mesmos dados:

Data de compraQtdeCusto unitário
01/05100R$ 10
10/05100R$ 12

Se vender 100 unidades, pelo UEPS, considera que vendeu as últimas, de R$ 12.
CMV = 100 × R$ 12 = R$ 1.200

Comparativo entre PEPS e UEPS

CritérioPEPSUEPS
Ordem de saídaPrimeiro a entrarÚltimo a entrar
CMV em inflaçãoMenorMaior
Estoque finalMais atualizadoPode estar desatualizado
Lucro contábilMaiorMenor
TributaçãoMaiorMenor
Aceitação IFRSSimNão

Qual método escolher?

A escolha depende de:

  • Objetivo da empresa: lucro contábil ou economia fiscal
  • Política tributária vigente
  • Rotatividade do estoque
  • Exigências legais e contábeis
  • Tipo de produto (perecível, durável, sazonal)

Empresas que visam transparência, compatibilidade internacional e conformidade com IFRS devem usar o PEPS. Já o UEPS pode ser vantajoso em contextos específicos, mas com restrições legais.

Impacto nos relatórios financeiros

A escolha do método afeta diretamente:

  • Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)
  • Balanço Patrimonial
  • Cálculo do lucro líquido
  • Apuração de tributos como IRPJ e CSLL
  • Indicadores de performance e rentabilidade

Aplicações práticas por setor

Indústria:
PEPS é mais usado por refletir melhor os custos atuais, importante para precificação e relatórios de custo.

Varejo:
PEPS é ideal para produtos perecíveis. UEPS pode ser utilizado em estoques com alta rotatividade e preços voláteis (em países onde é permitido).

E-commerce e logística:
PEPS facilita o controle de armazenagem, evita perdas e reflete melhor o giro real de produtos.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. Qual método é mais usado no Brasil?
O PEPS é mais comum, especialmente porque o UEPS não é aceito pelas normas internacionais de contabilidade (IFRS), seguidas no Brasil.

2. O UEPS é ilegal?
Não é ilegal, mas não pode ser usado para fins fiscais no Brasil. Pode ser usado apenas para controle interno, se for relevante para a gestão.

3. Posso mudar de método no meio do ano?
Não. O método deve ser adotado de forma consistente e só pode ser alterado com justificativa formal e aprovação contábil.

4. O método afeta o valor dos impostos?
Sim. Métodos que aumentam o lucro contábil (como o PEPS em ambientes inflacionários) resultam em maior tributação.

5. PEPS e UEPS influenciam o preço de venda?
Indiretamente, sim. Como eles afetam o custo registrado, podem interferir na precificação e nas margens esperadas.

Leitura Recomendada

Conclusão

A escolha entre PEPS e UEPS não é apenas uma questão contábil — é uma decisão estratégica. Dependendo do mercado, da legislação e do momento econômico, o método adotado pode ajudar sua empresa a economizar impostos, melhorar o controle de estoque ou otimizar a análise de resultados.

No Brasil, o PEPS é o modelo preferencial e aceito pelo IFRS, tornando-se o caminho mais seguro para a maioria das empresas. Mas o entendimento do UEPS continua relevante para fins comparativos, estudos e aplicação em ambientes internos ou acadêmicos.

Sobre o Autor
Lucas Rocha em traje formal com um elegante terno azul, camisa branca e gravata marrom, transmitindo profissionalismo e autoridade

Lucas Rocha é administrador de empresas, pós-graduado pela FGV-Rio e fundador do Administração Explicada. Com vasta experiência em processos e gestão de pessoas, dedica-se a ajudar pequenos negócios com consultorias e soluções de gestão.

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